segunda-feira, 30 de agosto de 2010

SELEÇÕES DE ALDACIR CASAGRANDE

CARTA ENTRE AMIGOS

Fomos plantados em solos em solos fertilizados com sofrimentos e esperança. A poesia misturada a alguma tristeza torna os dizeres mais profundos. A felicidade só deixa de ser utopia quando nos completamos com a inteligência e o afeto do outro. Não entendo a tristeza como ausência de felicidade. Acho que elas coexistem. Somos felizes e tristes. Felizes porque tentamos entender nossa missão. Tristes porque assim tem que ser. A tristeza nos empresta respeito ao outro e percepção mais aguçadas da dor. Talvez tristeza seja ausência de alegria, de riso fácil, não de felicidade.
Não há amor sem conquista. Os amantes precisam ao menos se deixar conquistar. As artimanhas da sedução tem um encantamento própriode quem tenta tocar no pronto frágil e depois fortalecer juntos. Amores doidos e não correspondidos. Histórias de ausências, de lágrimas, de quem deu e não recebeu. Não deveria ser gratuito o sentimento daquele que ama? Não é gratuita a chuva que cai abundantemente? Será que as pessoas que mais sofrem são as que mais amudurecem? Será que a dor é que tem poder de dar majestade ao amor?
Sacrifício por amor tem menos dor.
Choro hoje a impossibilidade dos afetos.
Falar apenas que é preciso ter fé parece não diminuir a angústia de uma vida de ausências arbitrárias.
" O amor nos socorre do esquecimento. Retira o poder definitivo da lápide, porque sobrevive na continuidade do que plantamos"
A dor é um território santo. Não gosto de respostas apressadas. Tenho medo de dizer, sem dizer, afinal, o que há de mais precioso nesta vida costuma ser vivido e experimentado a partir do silêncio frutuoso. A boa palavra se alimenta de silêncios e pausas. Há palavras que não combinam com explicações. E mesmo que explicassões existissem , não seriam capazes de aplacar a dor que provocaram. Frases simplórias e descomprometidas com a verdade não resolvem; ao contrário, agravam ainda mais o sofrimento, porque geram orfandade, descrença e abandono.
Justificam as tragédias humanas como "vontade divina", retirando assim a responsabilidade humano dos acontecimentos, frutos das escolhas que fazemos.
Eu ainda prefiro o abraço solidário, o silêncio que nos permite proximidade e o comprometimento com a dor que me toca. Ainda prefiro sentir o vento frio do calvário a procurar aquecimento mórbido do sepulcro que nos cala antes da hora.
Tenho medo quando o discurso religioso é utilizado para responder de forma mágica a questões que são humanas , sangradas no asfalto das cidades, em lugares que nossos olhos não alcançam.
"Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico, na música de seus versos"
Sofrimentos que antes eram capazes de me sepultar, agora me sugerem experiência de plantio de flores.


Gabriel Calita e Pe. Fábio de Melo

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